Com o início do ano letivo, a aplicação da Lei 15.100/2025, que regulamenta o uso de celulares nas escolas para proteger a saúde mental, física e psíquica dos estudantes, começa a ganhar destaque. Especialistas do setor educacional analisam os impactos da medida e os desafios de sua implementação no ambiente escolar.
A pedagoga e mestre em Educação, Daniela Afonso Chaves, diretora do Colégio Agostiniano Magnum Lourdes, destaca que a tecnologia sempre foi uma aliada no ensino, mas a dependência excessiva dos estudantes em relação ao celular exigiu uma regulamentação mais rigorosa.
“As tecnologias educacionais vieram, em um primeiro momento, para somar à escola. Muitos aplicativos e plataformas auxiliam no aprendizado, e o celular passou a ser visto como uma necessidade, justificando seu uso até mesmo dentro da sala de aula, por meio de quizzes e outras ferramentas. No entanto, existem outros recursos que podem substituir o celular no ambiente escolar”, pontua Daniela.
A especialista ressalta que a ansiedade dos alunos causada pelo acesso contínuo ao celular tem prejudicado a concentração e o aprendizado. “O que temos percebido é uma grande dependência dos estudantes, especialmente no uso das redes sociais e do WhatsApp. Eles ficam ansiosos, querendo ver o que está acontecendo e responder rapidamente. Isso impacta diretamente na interação com o professor, com os colegas e com o objeto de conhecimento, afetando a aprendizagem”, acrescenta.
Nesse sentido, a nova legislação dá respaldo às escolas para reforçar a função primordial do ambiente escolar. “A lei veio auxiliar a escola na moderação do uso do celular dentro do espaço educativo, reforçando que a aprendizagem acontece, sobretudo, pela interação”, conclui a pedagoga.
Já o educador Germano Cord Neto, autor do livro Emoções na Sala de Aula: A Arte do Design Emocional na Educação e diretor geral do Colégio Magnum Agostiniano, avalia que a mudança será um grande desafio para alunos, educadores e famílias, especialmente para os adolescentes.
“A proibição do uso do celular é uma mudança bastante impactante. No nosso colégio, essa restrição já havia sido aplicada até o 5º ano em 2024, e agora se estende a todas as séries. Acreditamos que essa medida ajudará a melhorar o foco dos alunos e a criar um ambiente mais produtivo e interativo”, afirma Germano.
Ele reforça, no entanto, que a implementação da nova regra exigirá um esforço conjunto entre escolas e famílias. “A adaptação requer cooperação de todos, além de uma comunicação clara sobre as regras. Estamos elaborando um regimento interno para lidar com os desafios dessa transição, como a retenção dos aparelhos e a instrução adequada dos educadores para mediar eventuais resistências dos alunos”, explica.
Outro ponto relevante, segundo o educador, é a forte ligação emocional que muitos estudantes têm com seus celulares. “Alguns alunos têm um apego muito grande ao celular, o que pode até ser uma questão de saúde mental. Esse período inicial será crítico, especialmente para os adolescentes que usam o aparelho constantemente para comunicação e lazer. As escolas precisarão atuar no desenvolvimento de habilidades de autocontrole e na oferta de atividades recreativas alternativas”, ressalta Germano.
A colaboração das famílias também será um fator determinante para o sucesso da nova regulamentação. “Muitas famílias já compreendem a importância dessa mudança e apoiam a decisão, mas para outras, será necessário um trabalho de conscientização”, finaliza.
Com o respaldo da Lei 15.100/2025, as escolas ganham um instrumento para reforçar a importância do ambiente escolar como um espaço de aprendizagem ativa, interação social e desenvolvimento de habilidades essenciais para os estudantes. O desafio agora é garantir que a transição ocorra de forma equilibrada, promovendo uma educação de qualidade sem abrir mão dos avanços tecnológicos.